Você não deveria largar tudo para ter uma #vidawireless

Há mais de 3 anos não entramos num ambiente de trabalho todas as manhãs dizendo “bom dia” para quem desejamos “boa noite” poucas horas antes. Há mais de 3 anos não sabemos o que significa a alegria involuntária dos dias 5 e dos dias 20, nem como era corriqueiro (e gostoso) gastar 15 minutos a mais do almoço pra conversar com o colega de baia que virou amigo. Há mais de 3 anos mudamos nossas vidas, pessoal e profissional. E somos bem felizes assim.

É muito fácil torcer o nariz para o que não é comum. O que sai da cartilha incomoda, então é prático dar um pitaco negativo em vez de avaliar bem a situação antes de criticar. Por que digo isso? Porque o que mais vemos nos comentários de histórias de pessoas que tentaram a sorte por um caminho diferente são referências à irresponsabilidade, a atitudes levianas, à modinha do sou cool”, a financiamentos dos pais, à necessidade de querer ser melhor que o outro. Já foi tanta bobagem vista que deu vontade de escrever.

Não, não temos uma vida tradicional. Eu, por exemplo, acordei às 10h30 hoje. Que absurdo, não? Mas a assessora de imprensa que ouviu minha voz sonolenta naquela hora (e percebeu meu recém-despertar) não sabe que fiquei até quase 3 da manhã editando texto e planejando reportagens legais para um cliente.

Que eu tinha passado boa parte da manhã e uma tarde inteira trabalhando, antes e depois das 4 horas e meia que dediquei a cuidar de mim, nas aulas de boxe, bike, musculação e pilates, além da sessão de drenagem linfática e de dar conta das tarefas domésticas (sim, elas existem!).

E que essas quebras que hoje consigo encaixar no meio do meu dia me tornaram uma pessoa com uma produtividade bem mais alta, alguém que não precisa estar à frente do computador durante um dia inteiro para executar suas obrigações (ou apenas para cumprir tabela).

Também não sabe que, para eu ter esse estilo de vida, de poder organizar meu próprio fluxo de trabalho, de escolher os horários e a maneira que quero trabalhar, de ter uma rotina totalmente diferente do meu vizinho que sai às 6h30 para levar a filha até o metrô, eu tive que me preparar. E muito!

Se a assessora engrossou o caldo dos comentários negativos que vemos/ lemos o tempo todo, eu não sei. Deduzo que sim. Mas quer saber? Não me incomodo. Não porque me acho melhor que ela – é preciso lembrar a quem já está torcendo o nariz.

Não me incomodo porque essa é uma opção de uma vida, decisão de duas pessoas (minha e do marido) que quiseram ter um dia a dia que atendesse às expectativas do que é viver bem, dentro da NOSSA lógica, dentro da NOSSA visão, dentro das NOSSAS expectativas e perspectivas, dentro da NOSSA realidade. Isso é bom pra gente! Pode não ser pra você, pro meu vizinho ou pra quem pega o trem andando e ainda quer sentar à janela. E isso não é nenhum problema. Pelo menos pra gente.

Se alguns acham que adotar esse estilo de vida é um ato imaturo, pra nós, é absolutamente o contrário. É amadurecimento de ideias e sonhos tidos e desejados por anos, por uma vida que já passou. É chegar num ponto em que avaliamos o que já vivemos em quatro décadas e o que queremos para a outra metade (ou mais, esperamos!) do tempo que ainda temos pela frente.

É assumir as consequências – o que é bem diferente de irresponsabilidade, né? – do que essa decisão traz junto dela, com seu bônus e, principalmente, seu ônus. É abraçar um projeto e construir uma realidade dentro de parâmetros e possibilidades que não surgiram de ontem pra hoje, como se fosse fácil largar tudo e mudar de vida de uma hora pra outra.

Não, nós não largamos tudo para termos nossa #vidawireless. Muito menos achamos que você deve fazer isso, principalmente se está ainda no início da trilha e não sabe bem qual direção seguir.

Veja bem: foram 20 anos. V.i.n.t.e.a.n.o.s. de preparação para essa fase que estamos vivendo, de poder viajar quando der na telha e trabalhar a partir de qualquer lugar do mundo.

Foram mais de 1.000 semanas, quase 6.000 dias cumprindo jornadas de, no mínimo, 7 horas, com direito a crachá, cafezinho, chefes legais (e não tão legais), muitos bons parceiros (outros nem tanto), colegas e amigos pra vida. Foram pelo menos 42.000 horas em que tivemos momentos felizes, mas que nos levaram à conclusão de que não era o que queríamos para o restante da nossa vida “produtiva” – que segue firme e forte, obrigada.

Não foi uma decisão tomada quando fui dispensada do mercado corporativo tradicional, 3 anos e meio atrás. Nem quando o marido pediu demissão 6 meses depois, para investirmos num sonho sonhado a dois. Foi uma decisão que começou a ser tomada 20 anos atrás, involuntariamente, porque eram desejos de vida que se encontraram e descobriram que poderiam acontecer.

Não houve loucura, irresponsabilidade, paitrocínio. Houve planejamento, aprendizado, conhecimento, preparação, networking, estudos, avaliações. Tudo em versão “muito”. Houve também insegurança, indefinição, incerteza. E isso continua existindo. Porque são pecinhas desse quebra-cabeça gigante que ainda estamos montando.

Se você quer saber o caminho das pedras para seguir na mesma direção, o primeiro passo é olhar pra trás e avaliar quanto já andou. Mapear quantos buracos teve que desviar, qual o tamanho da sua bagagem e com qual o suporte pode contar, caso as coisas deem errado.

Precisa descobrir até onde vai seu fôlego, olhar para as ferramentas que estão na sua mão e o que faz sentido para a SUA vida. Porque nada cai do céu, nasce em árvore ou aparece embaixo da cama da noite pro dia, mas ninguém disse que não pode ser alcançado.

Nós não abrimos mão de tudo, nem jogamos tudo pro alto ou fomos irresponsáveis pela nossa sonhada #vidawireless. E não queremos que você faça isso se não estiver preparado para o que vier pela frente.

Mas não temos dúvidas: (profissionalmente falando) foi a melhor coisa que aconteceu nos nossos últimos 20 anos. 😉

Foto: Image Catalog | flickr | creative commons

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