Já contamos aqui que não foi de uma hora para outra que chegamos à nossa #vidawireless. Não teve certo dia que acordamos, olhamos um pro outro e falamos ao mesmo tempo: “Já deu! Vamos largar tudo e sair por aí conhecendo o mundo”. A decisão aconteceu aos poucos, ou melhor, foi aparecendo diante de nós em doses homeopáticas – um mudança de casa aqui, um desligamento na empresa ali, uma preparação inconsciente do que estava por vir e 20 anos de “treinamento”.
É claro que, na hora H, bateu um certo receio diante das incertezas que uma mudança de estilo de vida pessoal e profissional traria, mas como disse uma amiga querida “se tiver medo, vá com medo mesmo”. E cá estamos nós, três anos depois, com essa fase superada.
O que passamos, entretanto, não foi nada além do esperado no comportamento de alguém, como me mostrou a Bruna Fioreti, coach de vida e carreira, jornalista e storymaker (acompanhe-a no YouTube, no Facebook e nos perfis do Instagram @brufioreti e @manualdevoce).
“O medo é inerente a qualquer mudança; é um dos sentimentos mais básicos do ser humano. Tendemos a querer ficar na zona de conforto. O paradoxo é que, mesmo que ela esteja desconfortável, ela nos traz o benefício de ser conhecida”, pondera.
Na esfera profissional, segundo Bruna, existe ainda outro – digamos assim – agravante: o da sobrevivência. “Trabalho é ganha-pão. Temos vontade de buscar o caminho mais seguro porque, em última instância, isso nos garante o sustento”, resume. E, claro, não é só isso que emperra uma decisão, já que há fatores individuais, de acordo com a história da pessoa, que a tornam mais ou menos vulnerável a medos.
Além disso, pessoas costumam problematizar demais, colocar muitos “mas” diante das oportunidades e/ ou resoluções. “Os poréns estão aí para sustentar os medos que temos de mudar, de enfrentar o novo, o diferente. Uma coisa é pesar prós e contras; outra é viver colocando empecilhos para tudo. Você pesa prós, pesa contras e se decide”, diz a coach.
Mas, olha só, uma decisão errada é melhor do que nenhuma decisão, tá? Bruna Fioreti explica bem essa questão. “A vida é movimento; a vida recompensa a ação, não somente a intenção. Sem decisões, a gente não evolui. Mas a decisão pode ser, por exemplo, de não mudar de trabalho. Nada, absolutamente nada, é inócuo”, frisa.
Ela empresta de Brian Tracey, o famoso consultor e especialista em business coaching, a afirmação: “tudo importa”. Omissão, ação, decisão de ir, de ficar… Tudo isso direciona a sua vida para algum caminho. Então a gente não tem opção de não tomar decisão. Não fazer nada é, em si, uma decisão – muitas vezes uma decisão ruim e acomodada, mas é (uma decisão). E terá consequências boas ou ruins na frente”, lembra.
* * *
Ok, você se identificou e está diante de um dilema: se sente prisioneiro do trabalho, do chefe, do estilo de vida ou mesmo da profissão que desempenha há anos e não sabe o que fazer da vida, qual decisão tomar. Como a coach já disse aí em cima, qualquer caminho que adotar será uma decisão. Então é hora de organizar as ideias para superar essa fase.
O primeiro e importante passo é o que Bruna chama de “decisão interna”. “Pode parecer banal, mas não é. Uma decisão interna é o compromisso que você assume com você mesmo de NÃO aceitar mais aquilo. Por fora, pode dizer ‘amém’, continuar mais um pouco ali, como se nada fosse. Mas quando a decisão interna é tomada, não há como voltar atrás. E essa convicção precisa vir de uma análise segura dos fatos, além do sentimento”, observa.
Isso significa se fazer perguntas do tipo: por que não aguento mais? O que perco se sair? O que ganho? Aí vem a decisão. Depois, é traçar um plano e agir.
Detalhe: nessas horas, ter boa autoestima é ponto extra, já que ela está vinculada a uma boa autoconfiança – e esta, sim, faz TODA a diferença para qualquer processo decisório na carreira e na vida pessoal. “Confie em si mesmo, baixe alguns decibéis da voz interna que te diz que não consegue e verá que nada te segura”, incentiva Bruna.
Outra coisa: não se toma decisão profissional considerando-se apenas seu feeling. Pensar e avaliar são fases fundamentais para um processo decisório, baseado na realidade. “Tem que ser uma junção de sentimento com fatores práticos, pesos e medidas, e um plano de ação para a próxima etapa”, observa a coach.
Não dê ouvidos (obviamente) para quem não está palpitando nas suas alternativas porque quer o seu melhor, mas ouça a opinião de “mentores”, pessoas que de fato queiram o seu bem e em cuja opinião sobre este assunto específico você confie bastante. “Mas se está confiante – e, please, em seu perfeito juízo – sua decisão interna vale mais que mil opiniões”, salienta Bruna.
Decidido por mudar o que lhe incomoda, mentores consultados, avaliadas as situações… Pronto! Eis a fase final, o ponto em que está apto a testar sua balança pessoal de acordo com os seus valores, ou seja, o que realmente importa na sua vida. São esses valores, aliás, que definem o que deve decidir.
É a hora de pegar uma folha de papel em branco e responder sinceramente a algumas perguntas, como lista Bruna:
- Como estou me sentindo sobre isso? Por quê?
- Quais são os fatores que me aborrecem de verdade?
- Há algo a fazer sobre eles?
- Qual a vantagem de ficar no ponto A?
- Qual a vantagem de ir para o ponto B?
- Qual a desvantagem de ficar no ponto A?
- Qual a desvantagem de ficar no ponto B?
Como lembra a coach, as perguntas parecem iguais, mas não são. Por isso, faça todas. E diante das respostas, provavelmente já saberá o que é certo, de acordo com os seus valores. “Pode ser que você não queira seguir o que constatou ali, mas aí será uma decisão baseada em outros fatores que não a lógica e o raciocínio claro que usamos no coaching em geral”, comenta.
Ao menos, saberá os desafios e as vantagens de cada decisão e, de qualquer forma, estará mais preparado para seguir. “Preparar-se para cenários é o mais inteligente a fazer, sempre. E nem precisa de tarô, ‘tá vendo?”, brinca Bruna.
(foto: Hometown Beauty | flickr | creative commons)
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