Procrastinação: você sabe como evitá-la?

Confesso: procrastinei este texto sobre procrastinação. Adiei quanto pude para me sentar à frente do computador e terminar a tarefa que foi cedendo lugar a tantas outras durante o dia.

Primeiro, foram os compromissos com horário marcado. Depois, cuidados com a casa, o almoço, o Snapchat, a pesquisa que parecia ser rápida e não foi, o site gringo com artigos curiosos, o Instagram, a incômoda perna inchada no calor paulistano, o capítulo longo do livro amado, o jantar, o Facebook, o telefonema demorado, a agenda que precisava ser atualizada (não, né?), a ideia nova que pedia para ser rascunhada…

Enquanto isso, o relógio avançada. Noite. Fim de noite. Madrugada. Até que eu mesma me dei um ultimato: ou terminava o texto antes de dormir ou deveria acordar muito cedo para conclui-lo antes da agenda do amanhã.

E cá estou eu, montando o texto, relendo todas as explicações que a psicanalista e coach de desenvolvimento humano Andreia Rego havia me passado, e comemorando por meu deslize não se tratar de um comportamento crítico.

“Procrastinar entende-se como adiar, empurrar para frente algumas tarefas do dia a dia. Essa questão pode ocorrer com qualquer indivíduo, não sendo vinculada a um tipo específico de personalidade/ perfil, pois está intimamente ligada ao comportamento”, diz a especialista.

A questão principal, segundo ela, é saber se o ato é uma procrastinação normal (ou seja, a que permite postergar uma ou outra atividade sem grandes prejuízos, para realizá-las depois) ou crônica (quando o indivíduo não só adia, mas evita a realização de atividades).

“Neste caso, pode ser que a pessoa esteja apresentando algum quadro de problema psicológico, sendo necessária uma avaliação mais apurada quanto à sua vida e o seu entorno”, avisa.

Andreia Rego acrescenta que a procrastinação crônica afeta a produtividade, além de reforçar a falta de foco, impedir definir o senso de direção e o planejamento efetivo de metas. Todo esse reforço pode provocar um tanto de sinais que enfraquecem a qualidade de vida da pessoa, como: desestímulo, desesperança, tristeza, culpas em excesso (por não realizar as atividades propostas), esgotamento mental, frustração, fracassos.

A psicanalista e coach destaca que, nesses casos, os sintomas prejudicam, também, as relações pessoais e a vida social, uma vez que todas as esferas da vida  (profissional, financeira, familiar, social, de saúde, espiritual, de relações…) andam juntas.

“A procrastinação contínua tem relação com medo excessivo de ‘dar conta’ das situações, alto estresse, angústias, alta ansiedade e baixa autoestima, isto é, tudo aquilo que pode contribuir com insatisfações e desprazeres do ser humano no cotidiano”, mostra.

A mania de adiar também pode sinalizar algo mais sério, como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou depressão. “Esses tipos de doenças causam desordem no cérebro, podendo gerar desatenção, fadiga, pensamentos negativos e de autossabotagem”, acrescenta Andreia Rego.

Por essa razão é tão importante observar essa prática no dia a dia – “e se constatar indícios de forte procrastinação, vale procurar um analista ou psiquiatra para ajudar no mapeamento dessas problemáticas, avaliando, juntos, os quesitos emocionais que impedem de agir sem sintomas prejudiciais”, diz a coach.

Eu procrastino, tu procrastinas, ele procrastina…

Bom senso: taí uma palavra muito importante para você que ficou se perguntando se está passando do ponto com seus adiamentos. Se é só um atraso, sem impactos para você ou para os outros (quem contratou seu trabalho, por exemplo), não é nada de relevante.

Uma avaliação pessoal é suficiente para se dar conta de que falta apenas um pouco mais de organização para não afetar a sua vida e a de quem está à sua volta ou depende de você. A grande questão é trabalhar para que a procrastinação não seja excessiva, nem gere impactos no próprio trabalho e na ação de outras pessoas.

“A preocupação não dever se apenas consigo, mas com o quão prejudicial pode estar sendo com outros que dependem de suas ações. Não vivemos em uma redoma, trabalhando apenas para nós. Todas as nossas funções têm impactos em outros, sejam empresas, fornecedores, pessoas físicas clientes, pacientes etc”, relembra a especialista.

6 dicas para acabar – ou, pelo menos, minimizar – a procrastinação

A psicanalista e coach Andreia Rego sugere alguns passos para que o adiamento das tarefas não deixe de ser algo pontual:

  1. Observe seu comportamento, diariamente, avaliando a forma de agir e/ ou realizar uma tarefa.
  2. Crie metas com prazos. Determine o que é importante e urgente para ser feito, priorizando o que realmente é essencial.
  3. Defina horários de trabalho que não gerem impactos ruins para você mesmo e para os outros.
  4. Execute as atividades de forma condizente com os prazos estipulados para não perder o foco.
  5. Separe momentos para relaxar a mente, distrair, se relacionar com outras pessoas, trazendo leveza à vida.
  6. Procure um médico especializado, caso tenha dificuldades de resolver a questão sozinho. “Isso não é indicação de fraqueza. Pelo contrário, é reconhecer que podemos sempre melhorar e viver felizes”, observa Andreia.

(Foto: Markus Spiske | flickr | creative commons)

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