Não adianta: você tem que aprender a lidar com a disciplina

Taí um dos grandes tormentos de quem trabalha em casa: ter disciplina para não se deixar levar pelas muitas tentações que o home office proporciona. Ou vai dizer que você não fica morrendo de vontade de trocar aquela planilha imensa pela Netflix ou o texto que não fica redondo nunca por um cochilo no meio da tarde?

É bem difícil encontrar alguém que não sofra desse mal – alguns dias (muito) mais, alguns dias (muito) menos. Se não estamos viajando (quando fora, queremos terminar tudo rapidamente para conhecer o lugar; nada nos distrai nessas ocasiões), também caímos na cilada da distração fácil de uma notícia curiosa num site aqui, um tanto de foto bonita no Instagram ali (segue o Vida Wireless, vai?), a timeline lotada do Facebook que parece ser inadiável.

Aliás, as redes sociais são vilãs no dia a dia para muita gente! Nós tentamos evitá-las ao máximo enquanto estamos focados em alguma tarefa. E “dividimos” o dia em turnos, privilegiando atividades pessoais até o horário do almoço, deixando tarde e parte da noite para o trabalho – o mais distante possível das tentações virtuais, quando dá. Tem funcionado na maior parte do tempo.

Quis saber como o drama da disciplina afetava mais gente e perguntei aos colegas do Facebook que também optaram pelo home office. Adivinha só?

A Silvia Regina, por exemplo, é jornalista como eu. Comanda uma agência de comunicação (a SR Comunicação Empresarial) e um blog (o Mãe Outra Vez), é mãe de uma garotinha e um adolescente, e se policia o tempo todo para não misturar os deveres de casa + filhos com o trabalho. A saída dela é organizar horários e tentar segui-los – a manhã é exclusiva para a vida pessoal e, a partir das 13 horas, só trabalho pela frente. O esquema costuma dar certo. “Claro que a regra não é rígida, mas tento seguir. Tento ao máximo não interromper um ou outro para ser o mais produtiva possível”, diz.

A Alline Tosha, fotógrafa da DOISAMOR, é outra que busca o equilíbrio entre profissão + vida pessoal. Mãe de um garotinho, divide o home office com o marido e reconhece que não é difícil misturar as estações. Ainda não encontrou uma saída definitiva para o vaivém de vida pessoal e vida profissional, mas uma das tentativas é encontrar os melhores horários para (ela) trabalhar e tentar ficar o mais off-line possível nessas horas. “Não entro em redes sociais e sites logo pela manhã”, revela.

A Amanda Salim também é jornalista e, por sorte, bastante disciplinada. Sua rotina é certinha: tem horário pra acordar, pra dar atenção pro cachorro, administrar a casa, cuidar da filhota, cuidar de si mesma e, óbvio, trabalhar. Às vezes, o programado foge do controle – felizmente não é sempre. “Botando na balança, de qualquer maneira, ainda sou mais produtiva em casa”, avalia. Mas ela sabe bem que ser organizada é fundamental para tudo dar certo. “E tirar o pijama também”.

A Silvana Lopes é artista plástica e cake designer (Bonna Dea no Face e no Instagram) e é outra que define os horários rigorosamente para não se perder nas atividades pessoais ou deixar de produzir. É tudo regrado: tem hora para cuidar da casa, hora para trabalhar, hora para treinar… “Trabalho em casa há mais de 20 anos, sendo que por 15 anos dei aulas no meu ateliê, incluindo com filhos pequenos, que sempre respeitaram as regras de não incomodar as aulas”, lembra. Até eu invejei essa organização. 🙂

O Jorge Freire Jr. já encontrou o caminho para conviver com a disciplina. Também… São 11 anos nessa vida remota. O segredo dele para tudo funcionar bem – veja só – também é seguir o relógio à risca. Das 9 às 17 horas, não liga a TV ou faz atividades paralelas enquanto se dedica ao trabalho, ou melhor, aos quatro empregos que tem – um blog, o Nerd Pai; uma coluna em Disney Babble; a criação de conteúdo na rede Storia e a administração de uma corretora de seguros). As exceções são os filhos pequenos, que ficam sob sua responsabilidade já que ele é a parte do casal que trabalha em casa.

A Helga Silva, diretora de arte e produtora audiovisual (Listas Extraordinárias no YouTube) resume bem toda a situação: “É difícil resistir à vontade de fazer mil coisas mais legais que trabalhar no meu quarto”. Tal como muitas pessoas, ela montou um calendário e nunca perde meus prazos, mas admite que acaba deixando tudo pra última hora.

* * *

Aí você que também faz de tudo para seguir a cartilha à risca se pergunta porque seu colega não sofre com isso. Porque tem gente que é disciplinada por natureza, como explica o master coach Luiz Claudio Carvalho, da Humanni Assessoria de Treinamento Pessoal. “Algumas pessoas naturalmente têm a personalidade mais voltada para resultados e execução. São as chamadas ‘dominantes’ e tendem a ser mais disciplinadas”, esclarece.

A boa notícia é que a disciplina pode ser estimulada. “É como um músculo e pode ser desenvolvida, por cada tipo de pessoa. O ponto de participa é a decisão, ou seja, decidir-se por ser disciplinado”, afirma o especialista.

Algumas atitudes ajudam no dia a dia:

  1. Ter uma lista escrita de tarefas a serem feitas.
  2. Estabelecer horários para começar e terminar uma tarefa.
  3. Reservar momentos para relaxamento e descanso (porque excesso de atividade provoca estafa e estresse, sabia?)
  4. Trabalhar uma visão “extraordinária” de futuro. “Se eu tenho uma meta motivadora no futuro, me motivo muito mais no presente”, garante o master coach.
  5. Desenvolver a chamada Inteligência Emocional. “Daniel Goleman, da Universidade de Harvard, na sua obra ‘Foco: A Atenção e Seu Papel Fundamental para o Sucesso’ (ed. Objetiva) mostra que a capacidade de focar e se manter disciplinado em algo está diretamente ligada à inteligência emocional”, comenta.
  6. Buscar apoio de gente de fora – um coach, por exemplo. Ter alguém que te impulsiona e te cobra multiplica o poder da realização de algo.

Detalhe: da mesma forma que é possível estimular a disciplina, muita gente sofre com a autossabotagem – o que não é nada incomum, diga-se. E na maioria das vezes, nem percebemos que estamos prejudicando a nós mesmos.

O problema é que isso traz uma série de consequências, do campo profissional ao pessoal, como explica Luiz Claudio. “A pessoa começa a fechar portas e a perder a credibilidade com os outros. O mesmo acontece com os parceiros, que passam a não confiar mais nela”, alerta.

Na vida pessoal, quem se autossabota e se torna indisciplinado começa a sentir culpa (por não fazer o que deveria) e tem uma queda na autoestima. “A médio prazo, pode desenvolver até uma depressão”, avisa o master coach, que tem um vídeo falando sobre o assunto.

(foto: Markus Spiske | flickr | creative commons)

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