Jornalismo à distância: como é frilar para o Brasil, morando fora

O trabalho remoto dá fim a um monte de barreiras, inclusive as geográficas. Prova disso é o tanto de gente que se aventura pelo mundo (como nós), viajando e trabalhando ao mesmo tempo. Mas também tem uma turma que decide residir longe do Brasil e, por conta dessa falta de limites espaciais, segue a vida atuando como se estivesse na vizinhança. No jornalismo, aliás, isso é bem comum. E estar “fora” pode somar algumas travas no dia a dia, mas também traz novos skills para o profissional que se aventura neste estilo de vida.

“Tive que fazer mais ‘corpo a corpo’ para os clientes continuarem lembrando que eu existo, apesar de não me verem. É muito fácil os clientes acharem que você ‘está em outra’ e pararem de pedir jobs”, conta a jornalista Luiza Sahd, que há 2 anos trocou São Paulo por Madri, na Espanha, e segue prestando serviços de produção e edição de conteúdo para empresas brasileiras (na foto acima, com os “coworkers” Hebe e Romeu).

“Eu só precisava de um agente para vender meu trabalho por aí”, brinca a jornalista Juliana Guarany (foto abaixo), que há 3 anos embarcou na segunda temporada fora do País (a primeira foi entre 2010 e 2012) e hoje reside na Alemanha.

O desejo de Juliana, que também escreve e edita reportagens para editoras do Brasil, coordena o FemMap (projeto que documenta projetos feministas pelo mundo) e assina um blog no The Huffington Post Brasil, pode até soar divertido, mas reflete as dificuldades que qualquer jornalista encontra em conseguir novos frilas, quando não se é um colaborador fixo. A real é que, à distância, tudo se torna bem mais complicado…

Na lista das dificuldades que Luiza encontrou depois que se mudou ainda entra a administração de contas bancárias. “Continuar movimentando as contas brasileiras para não atrapalhar o fluxo de pagamentos é um desafio, porque os bancos não estão tão preparados para um cliente que não pode ir pessoalmente digitar uma senha na agência (quando o cartão é bloqueado, por exemplo), mas é parte do jogo”, conforma-se.

Não tem jeito! A burocracia acaba sendo uma dor de cabeça extra. “Preciso ter alguém com uma procuração minha para atender algumas questões burocráticas que não se resolvem com um e-mail. E já precisei mandar carta com assinatura porque não bastava a digital”, conta Juliana.

O lado bom da vida (remota)

Mas se os empecilhos surgem, atuar à distância (no caso, uma grande distância) não deixa de trazer benefícios para os profissionais. “Acho mais fácil estar longe porque me fez olhar para os temas de trabalho com um olhar menos viciado e mais curioso. Particularmente, morar em uma cidade relativamente pacata favoreceu meu foco e me fez olhar para as pautas do Brasil sob novas perspectivas, com insights que eu só poderia ter graças ao distanciamento”, afirma Luiza.

Juliana reforça a questão do foco. “Morar fora e trabalhar em casa te dá uma sensação de dois mundos: o de dentro, em português, e o de fora, em outra língua. Essa separação ajuda a organizar a vida e a se concentrar no trabalho”, avalia.

Outro ponto positivo, para ela, é conseguir experimentar outros espaços de trabalho além da própria casa. “No Brasil, os deslocamentos e o trânsito interferem nisso. Ser frila em São Paulo significa ficar presa em casa quase que o tempo todo, pois sair de casa é difícil, qualquer atividade exige tempo, deslocamentos longos etc”, aponta.

Juliana Guarany

Ela acredita que variar os ambientes de trabalho ajuda na organização pessoal – para não passar o dia vendo seriados na TV e, depois, ter de passar a noite em claro escrevendo, por exemplo. “Biblioteca é um bom local, já que está todo mundo em silêncio, concentrado. As bibliotecas das faculdades alemãs são abertas e possuem mesa com tomada pra quem chega. Em Hamburgo, eram tão populares que no inverno faltava lugar”, relata Juliana.

Já a Luiza prefere o home office mesmo. “Gosto de trabalhar em casa porque tenho os melhores coworkers do mundo: o marido e dois cachorros para afagar quando as ideias travam”, garante ela, que aponta como luxos alguns pequenos prazeres impossíveis dentro de uma empresa, como parar e tomar um banho no meio do “expediente”.

O fuso e a tecnologia como aliados

Tanto Luiza como Juliana vivem na Europa, onde a diferença de fuso horário significa algumas horas à frente. E ambas acham que isso é um fator bastante positivo. “O fuso é meu melhor amigo porque durmo e acordo tarde. Graças a ele, me tornei mais pontual do que era no Brasil”, revela Luiza.

Além da diferença de horário, a tecnologia (como não poderia deixar de ser) é uma parceira e tanto. “Contatar fontes ligando do Skype dá tão certo que eu ja faço isso mesmo estando no Brasil”, diz Juliana.

“É evidente que é muito legal poder encontrar as pessoas para tocar os projetos também fisicamente, mas a distância, com os recursos tecnológicos que temos à disposição, não é impeditiva para mais nada”, finaliza Luiza.

(fotos: arquivo pessoal [Luiza Sahd] e Jordana Viotto [Juliana Guarany])

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