Por que a demissão não é o fim do mundo

13 de março de 2013. Eram umas 10h30 e eu mal havia pendurado a bolsa na cadeira quando recebi o aviso para descer até o RH, alguns andares abaixo. Meu dia e minha rotina dos últimos 6 anos terminava ali, naquela grande editora que, por muito tempo, foi meu sonho de consumo profissional.

Durante aquela quarta-feira, experimentei todo tipo de emoções: a mágoa e até raiva pelo meu desligamento, o conforto e o carinho dos amigos próximos, os questionamentos infinitos de “por que eu?”, rejeição, ansiedade, uma certa vergonha e (inconscientemente) um alívio por deixar um trabalho em que eu já não me encontrava.

Naquele dia, se eu soubesse como seria minha vida dali em diante, não teria chorado, resmungado, falado palavrão, nada! Teria, sim, aberto uma(s) garrafa(s) de champanhe e comemorado muito: a vida que eu sempre sonhei estava apenas começando…

Não precisou muito tempo para eu confirmar: a demissão foi a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo. Eu já estava desmotivada com o trabalho (havia pedido à gestão da equipe e ao RH uma transferência para outro projeto); não tinha mais aquele “prazer” em seguir o roteiro casa-trabalho-casa todo santo dia.

Mas estava amarrada aos fios da comodidade que o mercado corporativo oferece: férias remuneradas, previdência privada, 13º salário, plano de saúde, vale-refeição, festa de fim de ano, brinde pelas metas alcançadas e por aí vai.

Eu não queria mais aquilo, mas continuava com aquilo. E fiquei triste por ter sido tirada daquele dia a dia que eu havia construído, por ter sido preterida. Confesso que quase acreditei não ser boa no que eu fazia, veja só!

Sorte é que logo me dei conta de que o empurrão para fora da zona de conforto era o que eu precisava para tirar o plano da vida remota da esfera dos sonhos. Bastava colocar em prática todo aquele projeto desenhado durante férias e mais férias ao lado do marido, apostando na tecnologia e no conhecimento de mais de 20 anos para ter mais tempo para nós e poder fazer o que tanto queríamos: viajar e trabalhar ao mesmo tempo, carregando o escritório nas costas.

A hora tinha chegado! Era a chance de fazer acontecer…

Foi o momento em que troquei de lado e mergulhei no mundo das pequenas empresas e todos seus pormenores para reativar a infoMedia digital, nossa agência que estava em stand by há alguns anos (justamente porque nos dedicamos ao mundo do crachá).

Foi quando ocupei a cadeira de empreendedora-chefe-funcionária-tudo-ao-mesmo-tempo-e-agora e comecei a executar o que seria o mundo profissional ideal para mim, ou melhor, para nós – o marido se juntou à investida alguns meses depois, o que conto em outra ocasião.

Nesse tempo de #vidawireless conseguimos fazer muito mais do que poderíamos imaginar alguns anos antes, quando tudo era só um sonho. Viagens? Felizmente, vieram muitas (27 países e territórios visitados em 483 dias, para ser mais exata).

Foram tantas e tantas experiências, tantos lugares incríveis que adotamos como “lar” temporário e montamos nosso “escritório do dia” que nenhum pedacinho daquele 13 de março de 2013 poderia vislumbrar.

Hoje, 4 anos depois, só penso como foi bom que aquele dia transcorreu daquele jeitinho. E que sorte a minha ter abraçado aquela demissão como a chance de mudar a (minha) história.

“Temos que encarar este momento como uma oportunidade. Muitas das vezes, esta pode ser a chance para voltar a estudar, fazer aquilo que realmente gosta ou mesmo montar seu próprio negócio. Tudo depende da forma como encaramos a situação”, me disse Rômulo Machado, diretor regional da De Bernt e consultor de RH.

O recado dele é direto: vale até “curtir” o luto por um determinado período, mas é preciso ter cuidado para não se vitimizar e isso se tornar um tormento. “O melhor a fazer é ter uma atitude positiva frente à nova situação e se planejar. Montar um plano de ação para a busca de uma nova oportunidade e, quem sabe, unir o útil ao agradável, fazendo aquilo que realmente gosta”, diz.

* * *

Para quem fica se questionando (como eu também fiquei), o especialista pontua que existem muitos fatores alheios à vontade, tanto do profissional quanto do empregador, que podem implicar em um desligamento.

“Costumo dizer que o que trouxe um profissional de sucesso até determinado ponto na organização não é garantia determinante que lhe garante um futuro ali, pois há variáveis que não controlamos, como: mudanças das condições econômicas, crise, falta de clientes, mudanças de tecnologia, mudanças de estratégia e de comando nas organizações. Tudo isto influencia!”, observa.

Se você está passando por essa situação, deixe o que aconteceu para trás e mire no futuro. Rômulo Machado diz ser comum o luto após uma demissão. Entretanto, não deve se prolongar por muito tempo.

“A grande maioria das pessoas fica tentando entender o que ocorreu ou tentando encontrar culpados. Entender o que aconteceu é importante, pois pode lhe ajudar a entender situações ou comportamentos que precisam ser melhorados. Mas o pior que pode ocorrer é a pessoa se sentir vítima da situação. Já o melhor é encarar o problema de frente, reconhecer que está numa situação diferente da que gostaria e se planejar”, afirma.

Caso você queira voltar para o mercado de trabalho, os passos iniciais incluem tomar consciência de suas habilidades e potencialidades e fazer um exercício de todos os projetos ou atividades importantes e relevantes que desempenhou na empresa anterior, pois isso vai lhe mostrar seu valor e ajudar a direcionar o pensamento para futuras entrevistas.

“A primeira coisa é manter a calma e se conscientizar de que esta é uma situação passageira e que você logo estará trabalhando”, ressalta. Em seguida, é recomendado montar um plano de ação para retomar seu lugar no corporativo, que inclui:

  1. Replanejar suas despesas/ contas. Como você não sabe quando vai se recolocar, corte gastos desnecessários e economize, pois isto pode fazer com que estique seus recursos.
  2. Atualizar o currículo. Seja objetivo, coloque suas habilidades e resultados alcançados, mostre cursos e experiência. “Não seja prolixo. O CV deve ter no máximo 3 páginas – o ideal são 2”, ensina o diretor e consultor. Distribua o currículo para sua rede de contatos e se cadastre nos sites de empresas onde suas habilidades podem ser essenciais. “Leia mais sobre sua área, mantenha-se atualizado dos fatos nacionais e importantes em sua área de atuação”, recomenda o expert.
  3. Se ainda não tiver, montar seu perfil em redes sociais especializadas em contatos profissionais, como LinkedIn. “Conecte-se a potenciais empregadores, colegas atuais e ex-colegas de empresas. Eles podem te ajudar”, afirma. E tome cuidado com o que posta nas redes sociais pessoais, já que muitas empresas costumam consultá-las para avaliar os interesses dos candidatos. “Conhecemos casos de profissionais que foram retirados de processos seletivos devido às postagens, atitudes e comportamentos inadequados apresentados em seu perfil”, revela Rômulo Machado.
  4. Dedicar-se à rede de contatos. Mantenha-se perto dos colegas atuais e tente se reaproximar de ex-colegas de trabalho. “Muitas das vezes as pessoas só se lembram de sua rede de contatos nestes momentos e isto é um erro. Os relacionamentos devem ser mantidos constantemente”, frisa o diretor da De Bernt. Buscar também contato com headhunters ou agências de emprego é uma boa alternativa, já que eles sabem sobre oportunidades do mercado e podem indicar seu nome, caso esteja no perfil da empresa.
  5. Manter uma rotina. Isso mesmo! Seu trabalho agora é arrumar trabalho. Como o especialista recomenda, esteja sempre bem apresentável, não descuidando da aparência e da saúde. Como está trabalhando para sua recolocação, esteja sempre pronto para uma entrevista.
  6. Ser sincero na entrevista. Tenha segurança em responder sobre você e suas habilidades, os motivos de sua saída do(s) emprego(s) anterior(es) e por que poderá fazer a diferença para aquela determinada empresa. “Não minta nem aumente resultados; o entrevistador percebe e, às vezes, checa informações”, conta.
  7. Ter flexibilidade. Avalie fazer trabalho temporário ou entrar em projetos por tempo determinado, pois isto vai te manter atualizado e com visibilidade. “Se encontrar trabalho, mas a remuneração não for a pretendida, avalie a oportunidade, veja se a empresa e o projeto não serão interessantes e se você pode performar e galgar promoções em curto espaço de tempo”, recomenda.

* * *

Agora, se você optar por empreender, deve responder a algumas perguntas, entre elas:

  • Tenho suficiente conhecimento do mercado para obter sucesso neste nicho?
  • Tenho um bom projeto? Como eu vou vender meu produto e/ou serviço?
  • Tenho capital de giro que me garanta um bom fluxo de caixa para empresa?
  • Conheço meus concorrentes e potenciais clientes?
  • Conheço as implicações fiscais e leis municipais, estaduais e federais?

Se diante dessas questões você já titubeou, não tenha receio em buscar ajuda de especialistas, pois eles podem fazer a diferença entre o sucesso e fracasso de um projeto.

“Ter um plano B é sempre bom, mas de nada adianta se ele não estiver implementado no momento de uma demissão. Montar um negócio é, às vezes, complexo e pede muito cuidado para não perder seu investimento”, alerta o especialista.

O lado bom é que empreender em tempos de crise pode ser mais demorado em relação ao retorno do investimento, entretanto, se o mercado se aquecer logo, a empresa já estará madura quando tudo melhorar. “E ela poderá ‘surfar’ num momento de crescimento da economia”, comenta Rômulo Machado.

(foto: barnimages.com | flickr | creative commom)

Gostou? Siga o Vida Wireless nas redes sociais para não perder nenhuma novidade:
Facebook | InstagramTwitter | Pinterest | Linkedin

Navegar